2005/01/21

Alter ego... sum...

Quando o silêncio é denso, amorfo, impossível de descolar da pele ressequida, quando o seu peso verga a torrente de palavras que deveriam cruzar o vazio... Algures há uma comporta que aprisiona a doçura e apenas liberta o sal que são meus olhos, semicerrados, cegos de não te ver mais...

Porém aqui estás, indolentemente, passeando-te na minha dor...

Já não me bastam as recordações, já não me basta a tua presença... outrora seriam sinónimos de sorrisos, de olhar brilhante e de vida... Resta-me o frio imenso que é chorar a morte do que fomos, atravessar o luto diário da nossa semi-existência...

E eu sei que não me lês, por isso te escrevo estas palavras, porque me oculto na cobardia que é a esperança que me estrangula...

Bastar-nos-ia uma palavra, a correcta, a necessária, a urgente, a premente: fim... Já nada nos prende, nem mesmo o calor dos corpos nas noites frias, os cheiros, os olhares, os sabores... dolentemente distante a sinestesia perfeita... doentiamente presente essa sensação que me flagela a cada segundo da tua presença...

Um dia olhei-te pela primeira vez: olhar brilhante, cabelos revoltos, sorriso perfeito... Fiquei para sempre presa nesse feitiço que nos encantou. Há muito que me agarro a essa imagem, revestindo-me consecutivamente de todas as sensações... Hoje acordei e percebo que não passamos de mera fotografia nesse corredor do passado...

Amei-te tanto...

14 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Dina,

Existem momentos em que as palavras representam mais do que mero grafismo, fonética ou sequência de ideias.
Extravazam o papel, a tela e ganham uma dimensão impossível de escrever, impossível de contar.
Transformam-se em sensações, descodificadas (interpretadas) pelo receptor da sensação, e pela leitura (individualista) que delas fez.
Grande texto!

Rita

"Porém aqui estás, indolentemente, passeando-te na minha dor..."

21 janeiro, 2005 14:23  
Blogger ...dina said...

Rita,

As palavras estão sempre para além delas próprias... existem, figurativamente, como imagens, sensações, cores, sabores...

Digo-te... preferia nunca ter tido a necessidade de juntar estas palavras debaixo de um único véu...

É um texto egoísta, meu, mas que sei que acaba por tocar que o lê, por isso o libertei de mim e coloquei aqui... reflecte uma realidade não só minha...

Um beijo com saudades,

Dina

21 janeiro, 2005 14:38  
Blogger Hearthy Lovin Greens said...

Perfeito.

21 janeiro, 2005 17:29  
Blogger Francesca said...

Bem...não encontro em mim palavras para descrever o que li e o que provocou e mim. Parabens!!

Http://poesiaempedacos.blogspot.com

22 janeiro, 2005 19:31  
Blogger nobody said...

Fantástico texto!

26 janeiro, 2005 18:13  
Blogger ...dina said...

Simplesmente, Guida,

Absoluto inatingível...

06 fevereiro, 2005 20:01  
Blogger ...dina said...

Cacau,

Sente, apenas...

06 fevereiro, 2005 20:02  
Blogger ...dina said...

Maria Branco,

O silêncio sempre fiel, sim...

Beijo.

06 fevereiro, 2005 20:05  
Blogger ...dina said...

DelArte,

Nada o é, por isso insistimos diariamente em viver...

06 fevereiro, 2005 20:05  
Blogger ...dina said...

Nobody,

Obrigada!

06 fevereiro, 2005 20:06  
Blogger ...dina said...

Ardente_Mente,

Disseste(-me) com perfeição... Saboreei...

06 fevereiro, 2005 20:06  
Blogger ...dina said...

Aeternus,

Palavras... sempre elas...

Obrigada pela visita e pelo link!

06 fevereiro, 2005 20:07  
Blogger AlmaAzul said...

...já re-li este texto vezes...e vezes... nunca disse nada...ele deixava-me sem palavras. Hoje, finalmente consegui dizer que é perfeito. Mas só hoje que algo também já chegou ao fim. E há fins que são inícios perfeitos.
Um afago na alma.

03 maio, 2005 17:23  
Anonymous Anónimo said...

Joana,

Ola... Este texto é tão lindo e triste ao mesmo tempo... Só espero nunca sentir o que senti ao lê-lo, ou pelo menos não com a mesma intensidade... beijos*****

13 março, 2007 00:32  

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