2004/07/12

Palavra(s) alheia(s)...

Coração Polar

I

Não sei de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus braços
sei que há um corpo nunca encontrado algures no mar
e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial
a tua promessa nos mastros de todos os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de salsugem
os teus naufrágios
e a grande equação do vento e da viagem
onde o acaso floresce com seus espelhos
seus indícios de rosa e descoberta.
Não sei de que cor é essa linha
onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma esquina
uma abertura entre a rotina e a maravilha .
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não te encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo pode ser possível
há um mar imaginário aberto em cada página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais absurdo
num sentido proibido ou num semáforo
todos os poentes me dizem quem tu és.




Manuel Alegre (n. 1936)
in Poemas de Amor
(Organização de Inês Pedrosa)

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

1936?
Que idade tens?
Ramos Rosa,conheces?
Herberto Helder,ouviste falar?
Vai às livrarias,meu!

08 agosto, 2004 22:26  
Blogger ...dina said...

“Minha”... permitir-me-ia dizer... se bem que se regressa ao linguajar popular e a “perca” literária pode ser muita...
Ramos Rosa, sim, Herbelto Helder, claro... tantos mais há a somar! Mas também não serão, dentro do conceito exposto, “ultrapassados”? Ou a geração dos anos 50 ou 60 tem que ser necessariamente melhor? Entramos, agora, no conceito de Neo-Realismo?

09 agosto, 2004 23:41  

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