2005/01/21

Alter ego... sum...

Quando o silêncio é denso, amorfo, impossível de descolar da pele ressequida, quando o seu peso verga a torrente de palavras que deveriam cruzar o vazio... Algures há uma comporta que aprisiona a doçura e apenas liberta o sal que são meus olhos, semicerrados, cegos de não te ver mais...

Porém aqui estás, indolentemente, passeando-te na minha dor...

Já não me bastam as recordações, já não me basta a tua presença... outrora seriam sinónimos de sorrisos, de olhar brilhante e de vida... Resta-me o frio imenso que é chorar a morte do que fomos, atravessar o luto diário da nossa semi-existência...

E eu sei que não me lês, por isso te escrevo estas palavras, porque me oculto na cobardia que é a esperança que me estrangula...

Bastar-nos-ia uma palavra, a correcta, a necessária, a urgente, a premente: fim... Já nada nos prende, nem mesmo o calor dos corpos nas noites frias, os cheiros, os olhares, os sabores... dolentemente distante a sinestesia perfeita... doentiamente presente essa sensação que me flagela a cada segundo da tua presença...

Um dia olhei-te pela primeira vez: olhar brilhante, cabelos revoltos, sorriso perfeito... Fiquei para sempre presa nesse feitiço que nos encantou. Há muito que me agarro a essa imagem, revestindo-me consecutivamente de todas as sensações... Hoje acordei e percebo que não passamos de mera fotografia nesse corredor do passado...

Amei-te tanto...

2005/01/18

...

... Palavras que ficam...

Sons que escapam!

2005/01/08

[.]

... Na pele o arrepio traçado pela tua ausência, palavra selada, seca, apagada da minha existência...

Ponto por ponto, atento o ponto que não pontua... Ponto que existe, como lâmina afiada, ameaçadora que teima no limbo... há apenas uma perceptibilidade não visível de um ponto que é mais do que mero ponto. Ponto. Reticências...

Compromisso que se viola, de lábios ensanguentados... A minha opacidade densa testa-te a incerteza... presente...

Ponto. Vazio...



(Fonte: http://olhares.com - Foto de Ricardo Tavares)